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  • Foto do escritorBrighid

Capítulo 7 - A dimensão de Variphor

O ambiente estava assustadoramente silencioso, a água azul e brilhante refletia os gigantes blocos de gelo flutuantes, um vento frio e cortante denunciava o inegável: estavam próximos ao continente de Hrodmir e sua capital Svargrond. Um grito interrompeu a paz de Valiant:


– "ANCORAR!! Soltem a âncora, este é o local!"


O nervosismo tomou conta, havia chegado a hora, era tudo ou nada, o sucesso ou fracasso, a salvação ou o fim, ele se aproximou da lateral do navio e o que podia ver era apenas o espelho de água que refletia sua imagem, ao seu lado se aproximou Lesly que disse:


– "Tenha cuidado Valiant, não sei qual será sua missão, ou a dificuldade dela… mas desejo boa sorte…"


– "Obrigado Lesly, terei cuidado…"


Valiant então retirou de sua mochila o cetro das dimensões e ergueu sobre o muro lateral do navio, mas nada aconteceu. Após segundos de completo silêncio, uma forte luz vindo dos céus iluminou o traje dourado de Valiant cegando temporariamente todos os ocupantes do navio. Por meio desta manifestação Fardos enviou energia suficiente para que o cetro funcionasse, e realmente surtiu efeito: um raio de luz vermelha saiu do crânio deste cetro e atingiu as águas geladas formando um imenso redemoinho. Pouco a pouco a velocidade do redemoinho se incrementou fazendo com que o nível da água no seu centro baixasse cada vez mais, pouco tempo se passou até que uma estranha formação rochosa tornasse visível e chamasse a atenção de Valiant, parecia ser algo que ele já havia visto durante suas jornadas pelo coração da destruição, neste momento ele soube que deveria aproximar-se mais.


Valiant se jogou nas águas geladas e nadou em direção ao redemoinho que rapidamente o prendeu com imensa força, em poucos segundos ele tocou na estranha rocha fazendo com que tudo ao seu redor girasse e distorcesse, ele atingiu a fenda entre ambas dimensões. Do lado de fora uma imensa explosão fez com que uma grande coluna de água se erguesse interrompendo o movimento do redemoinho, neste momento a luz intensa também cedeu possibilitando que os confusos ocupantes do navio voltassem a enxergar normalmente.


– "Algo estranho ocorreu aqui, Valiant, precisamos conversar, onde é o local que você precisa checar?" Falou Lesly enquanto olhava para todos os lados.


– "Valiant?" Lesly seguia repetindo seu nome, após alguns minutos buscando no navio, já cansada, ela finalmente disse aos guardas inquisidores: "Ele não está aqui, certamente aquela luz e a explosão tenham relação com ele… espero que esteja bem."


Enquanto isso….


Valiant abriu seus olhos, sentia dores por todo o corpo, com esforço se levantou. Tudo que podia ver era uma mistura de cinza, preto e alguns detalhes vermelhos, ele sabia: naquele momento já estava na dimensão de Variphor. Um sentimento de medo e curiosidade tomou conta, lentamente ele caminhou pelos corredores escuros com o cuidado de não fazer barulho. Após alguns minutos em completo silêncio ele escutou uma voz, imediatamente parou e controlou sua respiração para escutar da melhor forma possível:


– "Ahhhh, não farei isso! Tudo é Ragna agora, até parece que nós não ajudamos o suficiente a causa…. Azerus está colocando muita confiança em uma novata, tantos para aquela missão, e ele envia justamente ela. Se ele quer isto, também não farei o que ele quer agora!"


– "O grande Variphor a chamou para cá, ele tem um plano envolvendo ela, nós só não entendemos ainda, e Azerus só cumpriu ordens…"


– "Não importa, ela parece ser uma traidora…"


Valiant tomou um susto ao escutar o nome de Ragna, ele sabia que em algum momento a encontraria novamente, e que provavelmente isto não seria fácil para ele. Ambos yalaharis que estavam conversando caminharam para outro corredor e saíram do salão, Valiant caminhou cautelosamente e seguiu por outro corredor, enquanto caminhava pensava nas palavras que havia escutado: "eles pensam que ela é uma traidora…". Por um descuido e em um momento de distração ele não percebeu que o corredor já havia terminado em outro grande salão, mas dessa vez lotado de yalaharis, ele parou bruscamente, estava paralisado de medo… Se descobrissem ele, seria o fim.


Valiant espantou-se de que parecia ser invisível, já que ninguém o notou. Neste ponto ele lembrou das palavras de Fardos e tudo fez sentido, ele realmente só poderia ser escutado, mas não visto.


Ele seguiu sua caminhada em meio dos yalaharis, cuidando para não tocá-los ou provocar qualquer ruído, todos estavam parados, porém em meio a uma discussão. Valiant passou a observar os estranhos móveis do grande salão, ele precisava encontrar algo que indicasse em que local da sua dimensão natal estaria o esconderijo do GodBreaker. Sem tocar em nada ele apenas observou cada um dos artefatos, nada parecia ser útil.


Em outro momento de descuido, Valiant não percebeu um objeto jogado ao solo e acabou pisando sobre ele quebrando-o e provocando um forte ruído, a discussão dos yalaharis parou imediatamente e todos passaram a olhar o objeto quebrado ao solo, um a um eles foram aproximando-se, em susto Valiant caminhou rapidamente para o primeiro corredor que viu com objetivo de despistá-los.


– "Quem quebrou isto? Não havia ninguém aqui neste lado do salão…", enquanto falavam vasculhavam o local.


– "Sinto cheiro de invasor… não havia registro de qualquer um de nós nesta parte do salão neste momento… Procurem imediatamente, ele deve estar em um dos corredores!"


Valiant sentiu um frio indescritível e o pânico parecia ocupar sua mente, eles estavam vindo em sua direção utilizando estranhas magias que pareciam ter como objetivo seu rastreio. Ele decidiu correr, ruídos de suas botas chocando ao solo chamaram a atenção dos yalaharis que partiram em alta velocidade em sua direção, as magias de rastreio haviam surtido efeito e um contorno branco-transparente denunciava a sua posição, uma perseguição violenta começou, ele seguia correndo aos corredores e salões, e a cada momento mais yalaharis se uniam à enorme multidão em sua perseguição.


Valiant seguia olhando para trás em pânico para a multidão enfurecida, ao olhar novamente para frente percebeu um bloqueio com uma dezena de yalaharis no corredor a sua frente, ele desembainhou sua espada e desferiu um golpe letal atingindo 2 dos que estavam bloqueando, seu caminho estava liberado, mas a ira da grande multidão só aumentou, uma forte sirene e luzes vermelhas alertavam a todo o complexo que um invasor estava em fuga.


Enquanto corria, centenas de ataques mágicos explodiam próximos a ele, já era certo que buscar um esconderijo seria algo impossível, em um dos momentos que dirigia seu olhar para trás Valiant foi atingido por um golem das trevas portando uma enorme clava, ao solo ele viu todos se aproximando e o golpeando, já estavam fazendo-o perder a consciência, era o fim.


A dor era indescritível, mas como uma chama na escuridão, uma voz familiar soou forte:


– "PAREM", um yalahari com grandes ornamentos se aproximou, enquanto todos se afastaram de Valiant, que estava ao solo, ele prosseguiu em sua fala:


– "Eu sou o responsável por invasores, o levarei para o interrogatório e punição!", ele se dirigiu ao golem e continuou:


– "Leve ele, ninguém o tocará, ou será punido também."


Um dos golems o ergueu e o carregou, atravessando a multidão. Valiant mal sentia o que estava acontecendo já que os fortes golpes haviam o deixado quase inconsciente, pouco a pouco seus olhos foram se fechando.


Algum tempo havia passado quando ele acordou, estava em uma sala ainda mais escura que o habitual, sentado próximo a uma mesa, e uma figura de yalahari ao fundo o parecia observar, estavam os dois a sós.


– "Vejo que acordou, Valiant."


Ele se assustou ao ver que alguém naquele local sabia seu nome, logo percebeu que seu capacete já não estava equipado. Seu conjunto de ouro, até então invisível naquele local, havia se convertido novamente ao estilo bonelord, como era originalmente.


– "Está assustado? É, eu sei, e te explicarei porque não deverias…", o estranho Yalahari ergueu os braços e continuou:


– "Esta sala foi criada especialmente por mim, nela existem 2 realidades distintas ao mesmo tempo, assim como aqui estou conversando com você há uma outra realidade na qual você está morto ao chão, a qualquer um que entrar nesta sala, e até mesmo a Variphor, a segunda realidade será a única visível…"


– "Isso significa que… você voltou a estar oculto."


Valiant não sabia se poderia confiar naquele sujeito, a voz parecia familiar, porém aquela máscara o cobrindo dificultava em associar a alguém. Observando os cantos da sala Valiant buscava por algum artefato pertencente ao yalahari que pudesse reviver em sua mente alguma memória e a vincular a alguém, mas isto no fim não foi necessário.


– "Você deve estar se perguntando quem sou. Perdão por não me identificar…", o estranho yalahari retirou sua máscara revelando seu longo cabelo loiro e olhos azuis, Valiant imediatamente o reconheceu:


– "Palimuth!!"


– "Sim, sou eu. Fico feliz em ter sido eu o agente de punição que o encontrou. Se fosse outro você já estaria morto."


– "Inúmeros invasores acabaram chegando até esta dimensão, mas por vias até então desconhecidas, algo em comum entre todos eles é que não sabiam o que havia ocorrido e por ordens de Variphor foram destruídos neste local…"


– "Em nossa dimensão natal somente falávamos em desaparecidos, ou estranhos acontecimentos… Em grande parte se devem a comunicações anômalas criadas acidentalmente entre ambas dimensões, má sorte aos que foram afetados."


– "Apesar de haver visto muitos invasores, você foi totalmente diferente… Um traje invisível, quanta engenhosidade… Este símbolo em sua mochila me lembra Ele…"


Palimuth levantou-se, deu alguns passos e olhou para o teto por uns segundos, como se estivesse buscando em sua memória detalhes de acontecimentos muito antigos:


– "Fardos me pediu para que eu me aliasse aos Yalaharis. Eles me ameaçaram, eu tive medo, mas Ele viu isto como uma oportunidade… O propósito a início não era claro em minha mente, com o passar do tempo, com as coisas horríveis que vi aqui, cada vez mais pensei que ele poderia ter cometido um erro..."


– "Com o tempo fui ganhando a confiança deles, me ofereceram o cargo de punição e investigação de invasores… obviamente, eu aceitei e aqui estou."


– "Com os avanços de tropas de Variphor era muito provável também uma invasão ordenada por Fardos a este local, e foi assim, finalmente, ao chegar neste entendimento, que eu percebi minha real função neste local."


– "Você sabia que eu viria?", perguntou Valiant.


– "Não exatamente você, mas eu sabia que alguém viria, Fardos não se deixaria derrotar facilmente."


– "Irei ajudá-lo, e espero que isto cumpra finalmente minha função, o que afinal está buscando neste local? O que Fardos necessita para conter Variphor?"


– "Preciso encontrar o local exato do Godbreaker em nossa dimensão, e Fardos acredita que a resposta esteja nesta dimensão.", falou Valiant.


– "Coloque seu capacete Valiant, eu o levarei para ao grande globo das trevas, ele foi criada por Variphor e comunica esta cidade com o esconderijo onde está o Godbreaker, mas avise a Fardos que… Mesmo que ele seja um Deus, ele não está em segurança se esta poderosa arma estiver contra ele…"


Valiant vestiu seu capacete, ficando completamente invisível para Palimuth.


– "Escute Valiant, não faça qualquer ruído, eu o guiarei ao globo. Você não o tocará em HIPÓTESE ALGUMA! Somente aponte seu cetro a ele, a informação ficará contida nele, é o que Fardos precisará para saber o local…"


Valiant se assustou, e em um pulo buscou o cetro em sua mochila, demonstrando um grande alívio ao ver que ainda estava ali. Palimuth abriu um sorriso e o disse:


– "Obviamente eu o revistei quando chegaste a esta sala, eu já conheço este artefato, Azerus possui um e o utiliza para favorecer novas comunicações interdimensionais. Bom, creio que estamos prontos, é hora de partir."


Valiant e Palimuth caminharam pelos corredores, inúmeras vezes outros Yalaharis saudaram o chefe de punições fazendo com que Valiant tivesse que se desdobrar para evitar um contato físico ou mesmo produzir algum ruído. Após alguns minutos, vários corredores e salões depois, eles chegaram ao grande salão onde se encontrava o globo das trevas.



Uma energia estranha emanava daquele enorme globo, feixes de uma matéria escura orbitavam, chocavam e saíam deste estranho objeto, conforme combinado, Valiant retirou cuidadosamente o cetro das dimensões e apontou ao globo, os olhos do crânio do cetro acenderam em uma forte luz vermelha, a missão foi bem sucedida. Palimuth manteve-se parado por um curto período e logo voltou a caminhar de onde veio, Valiant o seguiu.


Após entrarem novamente à sala de Palimuth, Valiant retirou seu capacete e falou:


– "O cetro acendeu quando apontei ao globo, você acredita que isto é o suficiente?", enquanto falava retirou de sua mochila o artefato e mostrou para Palimuth.


– "Perfeito, isto era exatamente o que eu esperava que ocorreria. Qualquer comunicação interdimensional provoca este cetro, algumas delas requerem do cetro para funcionar, e outras, muito mais poderosas como este globo das trevas, não requerem um cetro, o simples fato de tocar nele o faz mudar de dimensão. Caso você tivesse feito isso, apareceria no meio do exército de Variphor, no centro do esconderijo, e dificilmente sobreviveria."


– "Qualquer informação sobre o globo está armazenada neste cetro, obviamente para eu ou você pode ser uma informação impossível de se obter, mas para Fardos isso não será um problema."


Valiant confirmou com a cabeça, guardou o cetro em sua mochila, olhou fixamente para Palimuth e disse:


– "Como posso sair deste local em segurança?"


Palimuth caminhou para um dos cantos de sua sala onde havia uma estranha capa cobrindo algum tipo de aparato, em um só movimento ele o descobriu, claramente era algo parecido com o que Valiant já havia visto em Yalahar.


– "O que é isto?", perguntou Valiant com grande curiosidade, enquanto se aproximava.


– "Espero que ainda funcione… Tive muito tempo livre neste local, trabalhei em diferentes estudos de transporte interdimensional e ocultação utilizando diferentes camadas de realidade, este é o motivo na qual estamos conversando tranquilamente nesta sala sem que alguém descubra…"


– "Você trabalhou nisso neste local? E o que os outros yalaharis veriam se entrassem nesta sala quando você estava em processo de construção?"


– "Eu deveria estar em serviço, observando relatórios de trabalho de outros yalaharis e verificar punições respectivas, logo se alguém entrasse neste local veria uma outra versão de mim sentado próximo a minha mesa, com inúmeros relatórios."


Valiant, confuso com o fato de poder existir mais de 2 versões de Palimuth ao mesmo tempo, perguntou:


– "Em yalahar, em nossa dimensão, você também está na entrada da grande construção central, como poderia isso?"


– "Não sou eu que estou lá, ele atende pelo nome de Palimuth também, mas é meu irmão. Ele é muito parecido a mim, eu o pedi que fizesse meu trabalho por um tempo, que logo voltaria… Eu já não sei quanto tempo se pas…"


Palimuth ficou em silêncio, olhando para o chão, parecia estar hipnotizado. Valiant se aproximou, passou sua mão em frente a sua face, mas não houve reação. Após alguns segundos Palimuth voltou a si, assustando a Valiant:


– "Ahhh!! Que susto, pensei que havia acontecido algo contigo…"


– "Não se preocupe, um guarda entrou em minha sala, e tive que atendê-lo imediatamente, desculpe pela interrupção, mas onde paramos?"


– "Ahh sim. Este aparato possui a capacidade de transportar pessoas ou pequenos objetos para nossa dimensão, desde que ele seja originário dela, ou, em raras exceções, que não tenha uma origem dimensional, como cetro que você carrega…"


– "Só há um problema, faz muito tempo que não o utilizei desde que os testes foram bem sucedidos, eu o deixei aqui como forma de fuga em caso que minha vida fosse ameaçada".


– "Não se preocupe excessivamente, mas pequenas anomalias podem ocorrer, você entrará em nossa dimensão, o único problema é que não sabemos o local que você aparecerá. Por algum motivo eu nunca apareci em meio ao oceano, mas por via das dúvidas, tenha preparado seu helmet of the deep."


Valiant se preparou, aproximou-se do estranho aparato e o tocou. Uma forte luz o cegou temporariamente, ele sentiu seu corpo ser tragado por uma poderosa força, e antes que percebesse já estava ele ao solo, em uma praia.


Ele se ergueu, olhou à sua armadura e percebeu que mesmo sem o capacete ela reluzia o forte ouro, a aparência bonelord foi trocada permanentemente para sua versão iluminada e dourada. Ele limpou sua bota, removendo o pouco de areia que havia entrado, colocou seu capacete e partiu em caminhada pela praia, seu objetivo neste momento era apenas identificar onde estava.



Após um curto tempo de caminhada ele viu um vulto no horizonte: uma mulher com um chapéu, uma capa que chegava quase aos pés, além de um arbalest e um quiver em suas costas, à medida que se aproximava, Valiant percebia que aquele rosto lhe parecia familiar. Apenas uns poucos metros separavam Valiant desta estranha arqueira, quando ela arrumou seu chapéu e a maior parte de seu rosto ficou visível, ele a reconheceu imediatamente, era Ragna.


Continua…

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